A geração de resíduos perigosos em nossa rotina

É incontestável que alguns resíduos gerados diariamente podem possuir características perigosas e apresentar riscos e prejuízos à saúde humana, dos animais e do meio ambiente. Muitos desses resíduos são caracterizados como perigosos (ABNT NBR 10.004/2004) em função de suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, e devem ser coletados e tratados de maneira diferenciada, conforme legislação específica. Observa-se que as principais atividades geradoras deste tipo de resíduos são TODAS ATIVIDADES. Estamos cercados pelos resíduos perigosos e são estes que histórica e potencialmente têm ocasionado os mais expressivos danos ambientais, têm trazido sérios problemas às populações e mobilizado muitos recursos financeiros.

Abaixo veremos como estes resíduos fazem parte da nossa rotina, o que deverá ser traduzido em compromisso de melhoria contínua na sua disposição para coleta e tratamento, que englobam nossa responsabilidade como geradores/ consumidores.

Apresentamos algumas características dos resíduos perigosos:

Inflamabilidade: resíduos que podem entrar em combustão facilmente quando em contato com outros materiais ou até de forma espontânea.

Corrosividade: resíduos que por sua característica ácida quando em contato com outros materiais e organismos vivos podem gerar danos irreversíveis.

Reatividade: resíduos que em contato com outras substâncias ou mesmo outros resíduos reagem de forma violenta e imediata, podendo liberar calor e energia.

Toxicidade: resíduos que se não armazenados adequadamente e em contato com organismos vivos, provocam danos a suas estruturas biomoleculares, em seus aspectos carcinogênicos, teratogênicos, mutagênicos, entre outros.

Patogenicidade: resíduos que apresentam características biológicas infecciosas, contendo microrganismos ou suas toxinas, capazes de produzir doenças no homem e nos animais.

Radioativos: resíduos que emitem radiações ionizantes e podem causar acidentes radiológicos e nucleares.

Agora vamos identificar os resíduos perigosos mais comuns em nossa rotina:

Pilhas e baterias: possuem metal pesado, tais como chumbo, cádmio, mercúrio, e se descartadas incorretamente, se tornam tóxicas. As baterias veiculares possuem, em seu interior, fluidos com altas concentrações de metais pesados e contaminantes, que podem se tornar reativos e inflamáveis.

Lâmpadas fluorescentes: a lâmpada fluorescente é composta por um metal pesado altamente tóxico: o mercúrio. É importante saber manipulá-la pois quando intacta não oferece perigo, apenas se quebrada, queimada ou descartada inadequadamente, devido à liberação de vapor de mercúrio, poluente imediato do meio ambiente.

Óleo lubrificante usado ou contaminado: trata-se de um resíduo tóxico persistente, pouco biodegradável, a substância leva muito tempo para ser absorvida pela natureza.

Pneus: os pneus inservíveis são aqueles que apresentam danos irreparáveis em sua estrutura, seu descarte inadequado causa vários problemas ambientais já, tais como: assoreamento dos rios; criadouro e abrigo do mosquito da dengue e outros vetores de doenças; sua queima libera diversos gases tóxicos na atmosfera, como monóxido de carbono, metais pesados, dioxinas e furanos (substâncias cancerígenas e uma das mais tóxicas existentes), entre outros problemas ambientais. Um pneu descartado inadequadamente se torna um resíduo patógeno.

Cartuchos e toners de tinta não devem ser descartados no lixo comum, pois possuem partículas contaminantes.

Eletroeletrônicos e seus componentes: Os equipamentos eletroeletrônicos são de pequeno e grande porte e incluem todos os dispositivos de informática, som, vídeo, telefonia, os equipamentos da linha branca, como geladeiras, lavadoras e fogões, pequenos dispositivos como ferros de passar, secadores, ventiladores, exaustores, os televisores, rádios, telefones celulares, eletrodomésticos portáteis, todos os equipamentos de microinformática, filmadoras, ferramentas elétricas, DVDs, brinquedos eletrônicos, entre outros. Todos possuem muitos componentes, desde elementos químicos simples a hidrocarbonetos complexos, e os metais são os elementos químicos mais encontrados – em muitos equipamentos este número chega a mais de setenta diferentes tipos de metais, que ampliam o teor de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade quando descartados inadequadamente.

O site do Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (http://www.slu.df.gov.br/component/k2/item/2366-faq.html) possui várias informações sobre o descarte de resíduos perigosos. O mais importante sobre essa questão é não descartar esses resíduos juntamente com seus resíduos domiciliares. O aumento da percepção da importância de se responsabilizar pelos seus resíduos gerados é um valioso instrumento de gestão ambiental, onde o foco está na fonte geradora. Felizmente, quando o consumidor entende as peculiaridades do seu resíduo gerado, nesse caso dos Resíduos Perigosos, a responsabilidade compartilhada fica mais clara, o que direciona o resíduo para uma destinação adequada, com a participação de todos os atores envolvidos. Para os geradores/consumidores a questão ambiental começa a ser encarada como uma oportunidade de avaliar suas escolhas, na compra de um produto que possa se tornar um resíduo perigoso pondere se existem ações de reutilização e reciclagem para o mesmo e se usualmente são corretamente direcionados para tratamentos específicos ou aterros licenciados. É um bom exercício.


Juliane Berber- arquiteta e urbanista, mestre em Engenharia Ambiental, auditora fiscal da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis).